O tannat é uma variedade que se adapta aos mais diversos terroirs na América do Sul; desde as altitudes impossíveis de Salta, no norte argentino; até as encostas graníticas de Maldonado, olhando para o Atlântico, no leste do Uruguai, em um clima marinho diametralmente oposto às alturas do deserto de Salta. E certamente, é uma variedade que absorve esse clima. Neste caso, é um dos grandes tannat que provamos no Uruguai, e não apenas porque nos parece um tinto excelente, mas também porque oferece uma face completamente distinta. Aqui o que comanda é o frescor do mar, proporcionando frutas azuis, notas condimentadas e essa acidez fresca, nada estridente, mas com força suficiente para dar-lhe nervo. Os taninos são surpreendentemente suaves para os padrões tânicos da cepa. Vocês precisam provar este vinho porque ele abre portas para uma variedade que é a bandeira do Uruguai, e que aqui mostra uma nova face, mais uma de tantas, o que nos faz pensar novamente que, mais do que uma uva, a mensagem do Uruguai deve ser os lugares.
O enólogo Eduardo Boido classificou esta safra como excelente. E é compreensível que seja assim. Bouza gosta de vinhos concentrados e maduros, suculentos e redondos, e o calor dessa safra coloca aqui seu selo, muito acima da fresca influência que o Atlântico exerce no vinhedo Las Espinas, a cerca de 2 quilômetros em linha reta do mar. Este vinho se mostra voluptuoso, de sabores doces, mas a acidez desse lugar fresco consegue se interpor e dar energia. Esta é a primeira colheita de vinhedos plantados em 2016 neste local sobre as colinas que olham para o Atlântico, no leste do Uruguai.
A família Bouza chegou ao Uruguai desde a Galícia em 1955, estabelecendo-se em Las Piedras, a 20 quilômetros da cidade de Montevidéu, em Canelones. Primeiramente começaram a fazer pão, para então se dedicarem à produção de massas. Em 2002, no entanto, decidiram diversificar e adentrar o mundo do vinho, adquirindo uma antiga vinícola construída em 1942, em Melilla. A primeira colheita foi em 2003.